Cecília Meireles
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Música Brasileira
Natan Zach
quarta-feira, maio 31, 2006
Suavíssima
Cecília Meireles
domingo, maio 28, 2006
Metade da gente do mundo
Metade da gente
metade da gente
sábado, maio 27, 2006
Cantarão pássaros...
Mas nada disso será culpa minha, porque eu acordarei nos teus braços e não direi nem uma palavra, nem o princípio de uma palavra, para não estragar a perfeição da felicidade."
José Luis Peixoto
segunda-feira, maio 22, 2006
Não estou pensando em nada
E essa coisa central que é coisa nenhuma,
É-me agradável como o ar da noite,
Fresco em contraste com o verão quente do dia.
Não estou pensando em nada, e que bom!
Pensar em nada
É ter a alma própria e inteira.
Pensar em nada
É viver intimamente
O fluxo e o refluxo da vida...
Não estou pensando em nada.
É como se me tivesse encostado mal.
Uma dor nas costas, ou num lado das costas,
Há um amargo de boca na minha alma:
É que, no fim de contas,
Não estou pensando em nada,
Mas realmente em nada,
Em nada...
Álvaro de Campos
sexta-feira, maio 19, 2006
Confiança
um de novo no outro
em pontos básicos.
Não a estreita, mesquinha
confiança de barganha
que diz:
Uma confiança maior
uma confiança do sol
que não se perturba em nada
com a ferrugem, as traças,
e que um no outro nós vemos
brilhando em cada.
Ó não me confie
não me sobrecarregue
com sua vida e questões; não me envolva
em suas preocupações.
Acho que é melhor confiar
no sol em mim
que brilha exatamente com tanto
brilho quanto você vê
em mim, e não mais.
E se ele esquenta
o cerne célere do seu coração,
confie pois nele, que forma
uma fidelidade a mais.
E seja,
ó seja um sol para mim,
não uma personalidade constante, insistente,
com o brilho do sol em mim...
David H. Lawrence - Tradução de: Leonardo Fróes
Velha canção
na aparente indiferença.
Esta fingida descrença
só disfarça o desespero.
Se a falsa máscara fria
pudesse quebrar esta ânsia
saberias que a constância
é meu pão de cada dia.
Um pudor duro e severo
esperar desesperado
é o que nutre este pecado
de querer como eu te quero.
Destarte - tímido louco -
não ouso sondar tua alma
e nesta insofrida calma
dia a dia morro um pouco.
Menotti Del Picchia
quarta-feira, maio 17, 2006
Espaço do olhar
Vivemos no seio da luz onde o inteiro vibra com a sua evidência de claro planeta e ainda que divididos vivemos no seu espaço uno porque é o único em que podemos respirar.
As nossas sombras não nos acolhem como folhas envolvendo o fruto, o nosso desamparo vem de mais fundo e nele não podemos manter-nos, temos de ascender ao móvel girassol do nosso olhar ainda que seja só para ver a fulva monotonia do deserto.
A vocação da pupila é o imediato universal, quer caminhemos numa rua, quer viajemos pelo mundo, quer ainda diante de uma página em branco.
A palavra pode anteceder a visão mas também ela é atraída para o luminoso espaço em que desenha os seus contornos.
António Ramos Rosa
É sempre assim...
de te inventar.
E é sempre assim!
(Só do porão do meu navio de tempestade consigo ver melhor o mar.)
Mas há lá
José Gomes Ferreira
segunda-feira, maio 15, 2006
Cartas a um jovem poeta (trecho adaptado)
Embora quase nada possa fazer que o ajude, quase nada lhe será útil. Teve muitas e grandes tristezas, que passaram. E diz você que mesmo essa passagem foi difícil e o deixou inconsolável. Mas, por favor, pense se essas grandes tristezas não foram diretamente para o centro de si próprio? Se muita coisa em si não se modificou, se algures em si próprio, nalgum ponto do seu ser, não se processou uma mudança enquanto se sentiu triste?
Só são perigosas e más aquelas tristezas que nós carregamos entre as pessoas de forma a afogá-las; como a doença que é superficial e tolamente tratada, que apenas se retira e passado pouco tempo aparece de novo, mais violenta; e acumuladas dentro de nós não vida, não vivida, rejeitada, vida perdida, da qual podemos morrer.
Fosse-nos possível ver para além do conhecimento, e um pouco além dos limites do nosso poder de adivinhar, talvez suportássemos as tristezas com maior confiança do que as alegrias. Pois são os momentos em que algo de novo entra em nós, algo desconhecido; os nossos sentimentos crescem mudos em tímida perplexidade, tudo em nós se retrai, a calma aparece, e o novo, que ninguém conhece, mantém-se ali no meio e é silêncio.
Acredito que quase todas as nossas tristezas são momentos de tensão que consideramos paralizantes porque deixamos de ouvir os sentimentos surpreendidos a viver. Porque nos encontramos sós com uma coisa estranha que entrou no nosso interior; porque tudo o que nos é íntimo e familiar nos foi tirado por instantes; porque ficamos no meio de uma transição onde não podemos permanecer.
Por esta razão a tristeza também passa; a coisa nova dentro de nós, aquela que está a mais, entrou no nosso coração, entrou para a parte mais profunda e já lá não está -já está no nosso sangue. E não percebemos o que foi. (...) E por isso é tão importante ser solitário e alerta quando estamos tristes; porque o momento aparentemente calmo e silencioso em que o nosso futuro põe um pé dentro de nós está muito mais perto da vida, do que aquele outro ponto no tempo, barulhento e fortuito, que nos acontece como se fosse vindo de fora.
Quanto mais quietos, mais pacientes e mais abertos nós formos quando estamos tristes, quanto mais profunda e inabalavelmente o novo entrar em nós, melhor o tomamos como nosso, tanto mais o tornaremos nosso destino, e quando num dia mais tarde acontecer, (...) sentiremos dentro de nós a afinidade e a proximidade.
Rainer Maria Rilke
O Mar intacto
e as valsas que banalizam a morte.
Tudo que fácil se dá quer negar-nos.
Teme o ludíbrio das corolas.
Na orquídea busca a orquídea que não é apenas o fátuo cintilar das pétalas:
busca a móvel orquídea:
ela caminha em si, é contínuo negar-se no seu fogo, seu arder é deslizar.
Vê o céu.
Mais que azul, ele é o nosso sucessivo morrer.
Ácido céu.
Tudo se retrai, e a teu amor oferta um disfarce de si.
Tudo odeia se dar.
Conheces a água? ou apenas o som do que ela finge?
O amor é fácil e triste.
Não se ama no amor, senão o seu próximo findar.
Eis o que somos:
O nosso tédio de ser.
Despreza o mar acessível que nas praias se entrega,
e o das galeras de susto;
despreza o mar que amas,
e só assim terá so exato inviolável mar autêntico!
O girassol vê com assombro que só a sua precaridade floresce.
Mas esse assombro é que é ele, em verdade.
Saber-se fonte única de si alucina.
Sublime, pois, seria suicidar-nos:
trairmos a nossa morte
para num sol que jamais somos
nos consumirmos.
Ferreira Gullar
domingo, maio 14, 2006
Um dia qualquer...
Procura-se sempre qualquer coisa que não se encontra, que não se sabe de onde ou para onde vai, mas que está no calendário dos dias que nos vão dando. (...)
Um dia qualquer de memórias de alguém que já não consegue lembrar, de alguém ou de algo perdido entre ruas de nomes trocados, escondidas atrás de fachadas de casas em ruínas, num dia semelhante a todos os outros, um dia como aqueles dias que rapidamente esquecemos, nasce sem ninguém dar por isso e fica moribundo quando o sol se vai embora sem dizer adeus.
Um daqueles dias que se espalha pelo corpo de todos, faz lágrimas e dá novos corpos, enquanto atira para o seio da terra mais uns tantos, um dia de duas metades de 12 horas, escassas para que todos falem, que se diluem entre intervalos publicitários, e previsões meteorológicas falhadas de uma felicidade com chuva ou de temporais solarengos, para os quais as máscaras felizes de Carnaval não chegam para todos e os fatos de homens tristes, são os mais procurados nos saldos, para as festas do tempo escasso.
Sem relógio o tempo atrasa-se a si mesmo ou antecipa-se à sua chegada, nós, os seus ponteiros, nunca chegamos a um consenso e arrastamo-nos para a frente e para trás ao sabor de uma única certeza, aquela onde se conclui não haver qualquer certeza, e sentimo-nos inúteis quando cai mais um ao chão e lá vai terra para cima dele, e nós mascarados, brincamos aos idiotas do está tudo bem.
Alguém finge dar corda ao relógio e alguém começa a correr porta fora, como se soubesse do que foge e para onde vai. Somos felizes? Somos pouco felizes? Somos uns tristes, somos miseráveis? Se falássemos baixinho?
Espera, deixa que apenas eu fale, empresta-me à força este teu último fôlego, deixa que o teu pescoço se quebre na delicadeza das minhas mãos ásperas e que o teu corpo desmaie para este dia e se vista igual ao dia de ontem que já é morto. Uns olhos esbugalhados de espanto, a condizer com uma boca rasgada por onde ainda corre um fiozinho de sangue, parece-me bem não achas? Poupavas o dinheiro do fato de homem triste para que eu conseguisse comprar uma máscara de idiota feliz, e sempre te apresentavas de forma original!
Gostas da idéia? Depois? Depois, toque de caixa e lá vai terra, as últimas exéquias, até qualquer não dia, quero lá saber de ti e vou brincar ao Carnaval dos parvos, vestido de idiota, com uma máscara sorridente, talvez me convidem para um canal de meteorologia quando virem que detrás da máscara se escondem umas lágrimas que não secam e ameaçam tempestade para os dias felizes.
(...) "
Luís Coutinho
sábado, maio 13, 2006
Um não sei quê...
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta,
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê.
Luís de Camões
Espaço para a ilusão...
Estreito espaço para a ilusão
Antes, em voo ousado, a imaginação
Subia até aos céus, plena de alento:
Hoje basta um estreito espaço para a ilusão
Se afundar nos abismos do tempo.
Logo o cuidado se aninha bem dentro
Do peito e traz secreto sofrimento;
Balança inquieto, estorva prazer e paz,
São sempre novas as máscaras que traz:
É casa e bens, mulher, os filhos que tiverdes,
Água, fogo, punhal, veneno, eu sei lá;
E tu tremes com medo do que nunca virá,
E choras sem cessar aquilo que não perdes.
Goethe
A vida é sonho
então reprimamos esta fera condição,
esta fúria,
esta ambição,
pois pode ser que sonhemos;
e o faremos, pois estamos em mundo tão singular
que o viver é só sonhar
e a vida ao fim nos imponha
Que o homem que vive,
sonha o que é,
até despertar.
Sonha o rei que é rei,
e segue com esse engano
mandando,resolvendo e governando.
E os aplausos que recebe,
Vazios, no vento escreve;
e em cinzas a sua sorte a morte talha de um corte.
E há quem queira reinar
vendo que há de despertar
no negro sonho da morte?
Sonha o rico sua riqueza que trabalhos lhe oferece;
sonha o pobre que padece sua miséria e pobreza;
sonha o que o triunfo preza,
sonha o que luta e pretende,
sonha o que agrava e ofende
e no mundo, em conclusão,
todos sonham o que são,
no entanto ninguém entende.
Eu sonho que estou aqui
de correntes carregado
e sonhei que em outro estado
mais lisonjeiro me vi.
Que é a vida?
Um frenesi.
Que é a vida?
Uma ilusão,uma sombra, uma ficção;
o maior bem é tristonho,
porque toda a vida é sonho
e os sonhos,
sonhos são.
Pedro Calderón de La Barca
sexta-feira, maio 12, 2006
Com nebulosas...
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.
Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.
Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem,dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.
António Gedeão
Cativar
Ando à procura de amigos. O que é que "cativar" quer dizer?
- É uma coisa de que toda a gente se esqueceu – disse a raposa. – Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
- Laços?
- Sim, laços – disse a raposa. – Ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me cativares, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E, para ti, eu também passo a ser única no mundo…(...) se tu me prenderes a ti, a minha vida fica cheia de Sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os outros passos fazem-me fugir para debaixo da terra. Os teus hão-de chamar-me para fora da toca, como uma música. E depois, olha! Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? Eu não como pão e, por isso, o trigo não me serve para nada. Os campos de trigo não me fazem lembrar nada. E é uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então, quando eu estiver presa a ti, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti. E hei de gostar do barulho do vento a bater no trigo...
(...)"
Saint-Exupéry
Algo cheio de razão...
Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros ao lado do espaço e o coração é uma semente inventada em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia, tu arrebatas os caminhos da minha solidão como se toda a casa ardesse pousada na noite. - e então não sei o que dizer junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas que às vezes se despenham no meio do tempo - não sei como dizer-te que a pureza, dentro de mim, te procura.
Durante a primavera inteira aprendo os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstrato correr do espaço - e penso que vou dizer algo cheio de razão, mas quando a sombra cai da curva sôfrega dos meus lábios, sinto que me faltam um girassol, uma pedra, uma ave - qualquer coisa extraordinária.
Como não sei como dizer-te sem milagres que dentro de mim é o sol, o fruto, a criança, a água, o deus, o leite, a mãe, o amor, que te procuram."
Herberto Helder
Inexpressão
Clarice Lispector
quinta-feira, maio 11, 2006
Prece
O Sol és tu e a Lua és tu e o vento és tu!
Tu és os nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor és tu também.
Onde nada esta' tu habitas e onde tudo esta' - (o teu templo) - eis o teu corpo.
Dá-me alma para te servir e alma para te amar.
Dá-me vista para te ver sempre no céu e na terra,
ouvidos para te ouvir no vento e nomar, e meios para trabalhar em teu nome.
Torna-me puro como a água e alto como o céu.
Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos
nem folhas mortas nas lagoas dos meus propósitos.
Faze com que eu saiba amar os outros como irmãos e servir-te como a um pai.
Minha vida seja digna da tua presenca.
Meu corpo seja digno da terra, tua cama.
Minha alma possa aparecer diante de ti como um filho que volta ao lar.
Torna-me grande como o Sol, para que eu te possa adorar em mim;
e torna-me puro como a lua, para que eu te possa rezar em mim;
e torna-me claro como o dia para que eu te possa ver sempre em mim
e rezar-te e adorar-te.
Senhor, protege-me e ampara-me.
Dá-me que eu me sinta teu.
Senhor, livra-me de mim.
Fernando Pessoa
segunda-feira, maio 08, 2006
Those Sweet Words
Sei que vi você cantando e meus ouvidos não pararão de aclamar até ouvir novamente aquelas doces palavras...
O que você disse?
Fim do dia, o ponteiro das horas girou, mas antes que a noite se acabe eu só tenho que ouvir aquelas doces palavras faladas como se fossem melodia.
Todo o seu amor é um balão perdido que vai subindo durante a tarde até caber na cabeça de uma agulha
Entre ...
Você teve dificuldades para dormir pois a lua estava me mantendo acordada.
E tudo o que sei é que estou feliz em vê-lo outra vez.
Veja, meu amor é como um balão perdido que vai subindo durante a tarde...
O que você disse?
Eu sei o que você estava cantando mas meus ouvidos não pararão de aclamar até ouvir aquelas doces palavras numa melodia simples.
Eu só quero ouvir aquelas doces palavras... "
Norah Jones de: Lee Alexander - Richard Julian - adaptada por a sOoL!!
Projeto
"Desta vez vou escrever-te um poema que vai ser um poema de amor, mas que não é apenas um poema de amor. O amor, com efeito, é algo que não cabe num poema; pelo contrário, o poema é que pode caber no amor, sobretudo quando te abraço, e sinto os teus cabelos na boca, agora que a tua voz me corre pelos ouvidos como, num dia de verão, a água fresca corre pela garganta. A isto, em retórica, chama-se uma comparação; e pergunto o que é que o amor tem a ver com a retórica, ou por que é e o teu corpo se teme de transformar numa metáfora - rosa, lírio, taça, qualquer objeto que tenha, na sua essência, um elemento que me possa levar até ele, como se fosse preciso, para te tocar, substituir-te por uma outra imagem, ver em ti o que não és, nem tens de ser, ou ainda transformar-te num lugar comum, que é aquilo em que, quase sempre, acabam os poemas de amor.
Nuno Júdice
domingo, maio 07, 2006
Olhar das palavras
- começa tu.
- deixa-me ver coisas boas: amor, amizade, as sensações e as intuições, sonhos, desejos, viagens, a música, as palavras e as conversas, os aromas e os sabores, o mar e o vento na pele. escolhe uma... ou sugere outra.
- o mar e o vento na pele, sentir o amor nas palavras
- esvoaçar o sentir e mergulhar no amor com a pele das palavras
- as nossas palavras.
- a partilha das palavras que são nossas
- partilharmo-nos para além das palavras.
- partilhar o olhar das palavras
- adoro falar com os olhos.
- adoras olhar com os dedos
- tenho sempre palavras nas minhas mãos.
- o desejo dos dedos nas palavras das mãos que se perdem no escutar do olhar.
- agora estou perdido no teu pensamento. o amor é assim.
- o amor é encontrar o pensamento do outro.
- eu serei eu e o meu pensamento no teu.
- tu serás eu se entras neste pensamento que é meu."
paula in: http://mundoimaginado.blogspot.com
sábado, maio 06, 2006
Liberdade
é querer ir e ter um rumo
e ir sem medo,
É pensar e logo transformar o fumo do pensamento em braços.
É não ter pão nem vinho, só ver portas fechadas e pessoas hostis e arrancar teimosamente do caminho sonhos de sol com fúrias de raiz.
É estar atado, amordaçado, em sangue, exausto e,
mesmo assim,
só de pensar
gritar gritar
e só de pensar
ir ir
e chegar
ao fim.
quinta-feira, maio 04, 2006
Tendência
Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei.
Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que não me lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que não me recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância- irmãos siameses que não estão pegados."
Bernardo Soares