Impossível é não odiar estas manhãs sem teto
e as valsas que banalizam a morte.
Tudo que fácil se dá quer negar-nos.
Teme o ludíbrio das corolas.
e as valsas que banalizam a morte.
Tudo que fácil se dá quer negar-nos.
Teme o ludíbrio das corolas.
Na orquídea busca a orquídea que não é apenas o fátuo cintilar das pétalas:
busca a móvel orquídea:
ela caminha em si, é contínuo negar-se no seu fogo, seu arder é deslizar.
Vê o céu.
Mais que azul, ele é o nosso sucessivo morrer.
Ácido céu.
Tudo se retrai, e a teu amor oferta um disfarce de si.
Tudo odeia se dar.
Conheces a água? ou apenas o som do que ela finge?
Não te aconselho o amor.
O amor é fácil e triste.
Não se ama no amor, senão o seu próximo findar.
Eis o que somos:
O amor é fácil e triste.
Não se ama no amor, senão o seu próximo findar.
Eis o que somos:
O nosso tédio de ser.
Despreza o mar acessível que nas praias se entrega,
e o das galeras de susto;
despreza o mar que amas,
e só assim terá so exato inviolável mar autêntico!
O girassol vê com assombro que só a sua precaridade floresce.
Mas esse assombro é que é ele, em verdade.
Saber-se fonte única de si alucina.
Sublime, pois, seria suicidar-nos:
trairmos a nossa morte
para num sol que jamais somos
nos consumirmos.
Ferreira Gullar
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