"(...)
Procura-se sempre qualquer coisa que não se encontra, que não se sabe de onde ou para onde vai, mas que está no calendário dos dias que nos vão dando. (...)
Um dia qualquer de memórias de alguém que já não consegue lembrar, de alguém ou de algo perdido entre ruas de nomes trocados, escondidas atrás de fachadas de casas em ruínas, num dia semelhante a todos os outros, um dia como aqueles dias que rapidamente esquecemos, nasce sem ninguém dar por isso e fica moribundo quando o sol se vai embora sem dizer adeus.
Um daqueles dias que se espalha pelo corpo de todos, faz lágrimas e dá novos corpos, enquanto atira para o seio da terra mais uns tantos, um dia de duas metades de 12 horas, escassas para que todos falem, que se diluem entre intervalos publicitários, e previsões meteorológicas falhadas de uma felicidade com chuva ou de temporais solarengos, para os quais as máscaras felizes de Carnaval não chegam para todos e os fatos de homens tristes, são os mais procurados nos saldos, para as festas do tempo escasso.
Sem relógio o tempo atrasa-se a si mesmo ou antecipa-se à sua chegada, nós, os seus ponteiros, nunca chegamos a um consenso e arrastamo-nos para a frente e para trás ao sabor de uma única certeza, aquela onde se conclui não haver qualquer certeza, e sentimo-nos inúteis quando cai mais um ao chão e lá vai terra para cima dele, e nós mascarados, brincamos aos idiotas do está tudo bem.
Alguém finge dar corda ao relógio e alguém começa a correr porta fora, como se soubesse do que foge e para onde vai. Somos felizes? Somos pouco felizes? Somos uns tristes, somos miseráveis? Se falássemos baixinho?
Espera, deixa que apenas eu fale, empresta-me à força este teu último fôlego, deixa que o teu pescoço se quebre na delicadeza das minhas mãos ásperas e que o teu corpo desmaie para este dia e se vista igual ao dia de ontem que já é morto. Uns olhos esbugalhados de espanto, a condizer com uma boca rasgada por onde ainda corre um fiozinho de sangue, parece-me bem não achas? Poupavas o dinheiro do fato de homem triste para que eu conseguisse comprar uma máscara de idiota feliz, e sempre te apresentavas de forma original!
Gostas da idéia? Depois? Depois, toque de caixa e lá vai terra, as últimas exéquias, até qualquer não dia, quero lá saber de ti e vou brincar ao Carnaval dos parvos, vestido de idiota, com uma máscara sorridente, talvez me convidem para um canal de meteorologia quando virem que detrás da máscara se escondem umas lágrimas que não secam e ameaçam tempestade para os dias felizes.
(...) "
Luís Coutinho
Procura-se sempre qualquer coisa que não se encontra, que não se sabe de onde ou para onde vai, mas que está no calendário dos dias que nos vão dando. (...)
Um dia qualquer de memórias de alguém que já não consegue lembrar, de alguém ou de algo perdido entre ruas de nomes trocados, escondidas atrás de fachadas de casas em ruínas, num dia semelhante a todos os outros, um dia como aqueles dias que rapidamente esquecemos, nasce sem ninguém dar por isso e fica moribundo quando o sol se vai embora sem dizer adeus.
Um daqueles dias que se espalha pelo corpo de todos, faz lágrimas e dá novos corpos, enquanto atira para o seio da terra mais uns tantos, um dia de duas metades de 12 horas, escassas para que todos falem, que se diluem entre intervalos publicitários, e previsões meteorológicas falhadas de uma felicidade com chuva ou de temporais solarengos, para os quais as máscaras felizes de Carnaval não chegam para todos e os fatos de homens tristes, são os mais procurados nos saldos, para as festas do tempo escasso.
Sem relógio o tempo atrasa-se a si mesmo ou antecipa-se à sua chegada, nós, os seus ponteiros, nunca chegamos a um consenso e arrastamo-nos para a frente e para trás ao sabor de uma única certeza, aquela onde se conclui não haver qualquer certeza, e sentimo-nos inúteis quando cai mais um ao chão e lá vai terra para cima dele, e nós mascarados, brincamos aos idiotas do está tudo bem.
Alguém finge dar corda ao relógio e alguém começa a correr porta fora, como se soubesse do que foge e para onde vai. Somos felizes? Somos pouco felizes? Somos uns tristes, somos miseráveis? Se falássemos baixinho?
Espera, deixa que apenas eu fale, empresta-me à força este teu último fôlego, deixa que o teu pescoço se quebre na delicadeza das minhas mãos ásperas e que o teu corpo desmaie para este dia e se vista igual ao dia de ontem que já é morto. Uns olhos esbugalhados de espanto, a condizer com uma boca rasgada por onde ainda corre um fiozinho de sangue, parece-me bem não achas? Poupavas o dinheiro do fato de homem triste para que eu conseguisse comprar uma máscara de idiota feliz, e sempre te apresentavas de forma original!
Gostas da idéia? Depois? Depois, toque de caixa e lá vai terra, as últimas exéquias, até qualquer não dia, quero lá saber de ti e vou brincar ao Carnaval dos parvos, vestido de idiota, com uma máscara sorridente, talvez me convidem para um canal de meteorologia quando virem que detrás da máscara se escondem umas lágrimas que não secam e ameaçam tempestade para os dias felizes.
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Luís Coutinho
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