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Música Brasileira

"Não é bom para o homem estar só mas ele está só, mesmo assim, ele espera e está só, ele adia e está só, só ele sabe que mesmo adiando chegará."
Natan Zach

quinta-feira, julho 27, 2006

A Guerra e o Desespero

SebastiãoSalgado-a sOoL!!
"As guerras têm aparentemente o fim de destruir o inimigo. O que elas conseguem afinal é destruir parte da humanidade — quando esta é atingida da psicose do suicídio. Isso não quer dizer que cada uma das partes se suicide pessoalmente. Nada de covardias. Para salvar as aparências, cada uma delas suicida a outra. Seria ridículo atribuir qualquer idéia de expurgo à Natureza — com N maiúsculo. E, por outro lado, seria humor negro atribuí-lo a insondáveis desígnios da Divina Providência.

Deixemos as maiúsculas em paz. Agora, o último pretexto invocado é o das guerras ideológicas. Muito bonito! Mas quem foi que disse que se trata de idéias? Trata-se de convicções. As quais nada têm a ver com a lógica. Eis um exemplo das convicções: eu sou gremista, tu és colorado. Ora, duvido que qualquer um de nós descubra alguma razão lógica para isso. Agora, passando para um domínio mais amplo, universal, vamos procurar um exemplo das idéias.

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Esta linha de pontinhos quer dizer que ainda estou procurando. Em todo caso, tenho de confessar que usar de idéias para examinar as guerras e guerrilhas é recorrer a um instrumento inadequado - assim como quem servisse de um microscópio para distinguir um rinoceronte que já vem vindo a toda para cima da gente.

— E então, ó homo sapiens, que vais fazer nesta situação desesperada?

— Ora, alistar-me... Toda opção é um ato de desespero."

Mário Quintana

terça-feira, julho 25, 2006

Os homens amam a guerra

"Os homens amam a guerra.
Por isso se armam festivos
em coro e cores
para o dúbio esporte da morte.

Amam e não disfarçam.
Alardeiam esse amor nas praças,
criam manuais e escolas,
alçando bandeiras e recolhendo caixões,
entoando slogans e sepultando canções.

Os homens amam a guerra.

Mas não a amam só com a coragem do atleta e a empáfia militar,
mas com a piedosa voz do sacerdote,
que antes do combate serve a hóstia da morte.

museuDelNino-Lib-a sOoL!!

Foi assim na Criméia e Tróia,
na Eritréia e Angola,
na Mongólia e Argélia,
no Saara e agora.

Os homens amam a guerra.
E mal suportam a paz.
Os homens amam a guerra,
portanto, não há perigo de paz.
Os homens amam a guerra,
profana ou santa, tanto faz.
Os homens têm a guerra como amante, embora esposem a paz.

E que arroubos,
meu Deus!
Nesse encontro voraz!
Que prazeres!
Que uivos!
Que ais!
Que sublimes perversões urdidas na mortalha dos lençóis,
lambuzando a cama ou campo de batalha.

Durante séculos pensei que a guerra fosse o desvio e a paz a rota.
Enganei-me.
São paralelas margens de um mesmo rio,
a mão e a luva,
o pé e a bota.
Mais que gêmeas
são xifópagas,
par e ímpar,
sorte e azar...
São o ouroboro - cobra circular eternamente a nos devorar.

A guerra não é um entreato.
É parte do espetáculo.
E não é tragédia
apenas é comédia,
real ou popular,
é algo melhor que circo:

- é onde o alegre trapezista
vestido de kamikase
salta sem rede e suporte,
quebram-se todos os pratos
e o contorcionista se parte
no kamasutra da morte.

A guerra não é o avesso da paz.
É seu berço e seio complementar.
E o horror não é o inverso do belo
- é seu par.

Os homens amam o belo mas gostam do horror na arte.
O horror não é escuro,
é a contraparte da luz.

IsraelStop-a sOoL!!

Lúcifer é Lubel,
brilha como Gabriel
e o terror seduz.

Nada mais sedutor
que Cristo morto na cruz.

Portanto,
a guerra não é só missa que oficia o padre,
ciência que alucina o sábio,
esporte que fascina o forte.

A guerra é arte.
E com o ardor dos vanguardistas
freqüentamos a bienal do horror
e inauguramos a Bauhaus da morte.

Por isso,
em cima da carniça
não há urubu,
chacais,
abutres,
hienas.

Há lindas garças de alumínio,
serenas,
num eletrônico balé.

Talvez fosse a dança da morte, patética.
Não é.
É apenas outra lição de estética.
Daí que os soldados modernos são como médico e engenheiro
e nenhum ministro da guerra
usa roupa de açougueiro.

Guerra é guerra!
dizia o invasor violento
violentando a freira no convento

Guerra é guerra!
dizia a estátua do almirante
com a boca de cimento.

Guerra é guerra!
dizemos no radar
desgustando o inimigo
ao norte do paladar.

Não é preciso disfarçar o amor à guerra,
com história de amor à pátria e defesa do lar.
Amamos a guerra e a paz,
em bigamia exemplar.

Eu,
poeta moderno
ou o eterno Baudelaire...

eu e você,
hypocrite lecteur,
mon semblable,
mon frère.

Queremos a batalha,
aviões em chamas,
navios afundando,
o espetacular confronto.

De manhã
abrimos vísceras de peixes com a ponta das baionetas
e ao som da culinária trombeta
enfiamos adagas em nossos porcos
e requintamos de medalha - os mortos sobre a mesa.

Se possível,
a carne limpa,
sem sangue.

Que o míssil
silente lançado à distância
não respingue em nossa roupa.
Mas se for preciso um banho de sangue
- como dizia Terêncio:
- sou humano e nada do que é humano me é estranho.

A morte e a guerra
não mais me pegam ao acaso.
Inscrevo sua dupla efígie na pedra
como se o dado de minha sorte
já não rolasse ao azar,
como se passasse
do branco
ao preto
e ao branco retornasse
sem nunca me sombrear.

Que venha a guerra!
Cruel.
Total.
O atômico clarim e a gênese do fim.

Cauto, como convém aos sábios,
primeiro bradarei contra esse fato.

Mas, voraz como convém à espécie,
ao ver que invadem meus quintais,
das folhas da bananeira inventarei
a ideológica bandeira
e explodirei o corpo do inimigo antes que ataque.

E se ele não atirar primeiro,
aproveito seu descuido de homem fraco,
invado sua casa
realizando minha fome milenar de canibal
rugindo
sob a máscara de homem.

- Terrível é o teu discurso, poeta!

Escuto alguém falar.
Terrível o foi elaborar.
Agora me sinto livre.

A morte e a guerra
já não podem me alarmar.
Como Édipo perplexo
decifrei-a em minhas vísceras
antes que a dúbia esfinge
pudesse me devorar.

Nem cínico
nem triste.
Animal humano,
vou em marcha,
danças,
preces
para o grande carnaval.

Soldado,
penitente,
poeta
- a paz e a guerra,
a vida e a morte
me aguardam
- num atômico funeral.

SteveMcCurry-Afeg1-a sOoL!!

- Acabará a espécie humana sobre a Terra?
Não.
Hão de sobrar um novo Adão e Eva
a refazer o amor,
e dois irmãos:

- Caim e Abel
- a reinventar a guerra."

Affonso Romano de Sant'Anna

sexta-feira, julho 21, 2006

Poemas aos Homens do nosso tempo

Leandra20-a sOoL!!Amada vida, minha morte demora.
Dizer que coisa ao homem,
Propor que viagem? Reis, ministros
E todos vós, políticos,
Que palavra além de ouro e treva
Fica em vossos ouvidos?
Além de vossa RAPACIDADE
O que sabeis
Da alma dos homens?
Ouro, conquista, lucro, logro
E os nossos ossos
E o sangue das gentes
E a vida dos homens
Entre os vossos dentes.

Ao teu encontro, Homem do meu tempo,
E à espera de que tu prevaleças
À rosácea de fogo, ao ódio, às guerras,
Te cantarei infinitamente à espera de que um dia te conheças
E convides o poeta e a todos esses amantes da palavra, e os outros,
Alquimistas, a se sentarem contigo à tua mesa.
As coisas serão simples e redondas, justas. Te cantarei
Minha própria rudeza e o difícil de antes,
Aparências, o amor dilacerado dos homens
Meu próprio amor que é o teu
O mistério dos rios, da terra, da semente.
Te cantarei Aquele que me fez poeta e que me prometeu

Compaixão e ternura e paz na Terra
Se ainda encontrasse em ti, o que te deu.

Hilda Hilst

terça-feira, julho 18, 2006

Verdade: concordância da mente consigo mesma.

“(...)

Os objetos externos só se apresentam a nós como aparências. Quando a eles, portanto, podemos dizer que possuímos mais opinião do que um conhecimento. As distinções no verdadeiro mundo de aparências só importam aos homens comuns e práticos. Nosso problema se encontra na realidade ideal que existe por trás da aparência.


Como a mente percebe essas idéias? Elas existem sem nós, e a razão, como a sensação, está ocupada com objetos externos a ela? Que certeza teríamos então, que segurança de que nossa percepção é infalível? O objeto percebido seria um algo diferente da mente que o percebe. Teríamos então uma imagem, em lugar da realidade.

HiroshiWatanabe-a sOoL!!

Seria monstruoso acreditar por um momento que a mente é incapaz de perceber a verdade ideal como ela é, e que não temos certeza e conhecimento real com respeito ao mundo da inteligência. Segue-se, portanto, que esse terreno da verdade não deve ser investigado como uma coisa externa a nós, e por isso conhecida apenas imperfeitamente. Está dentro de nós. Aqui os objetos que contemplamos e aquilo que observa são idênticos: ambos são pensamento. O sujeito não pode conhecer com segurança um objeto diferente dele mesmo. O mundo das idéias se encontra em nossa inteligência.

A verdade, portanto, não é a concordância da nossa apreensão de um objeto externo com o próprio objeto. É a concordância da mente consigo mesma. Por conseguinte, a consciência é única base da certeza. A mente é sua própria testemunha. A razão vê em si o que está acima dela e de sua origem; e também o que está abaixo dela como, uma vez mais, ela mesma.

(...)”

Plotino (205 d.C. * 270 d.C.)
"A aspiração do homem não deveria limitar-se a não ser culpado, mas a ser Deus."

domingo, julho 16, 2006

Across the universe...

Vowels-a sOoL!!
"Através do universo palavras flutuam como uma chuva sem fim dentro de um copo de papel.
Elas se mexem selvagemente enquanto deslizam pelo universo.
Um monte de mágoas, um punhado de alegrias estão passando por minha mente, me possuindo e acariciando.

Jai guru deva.
Om.

Nada vai mudar meu mundo

Imagens de luzes quebradas que dançam na minha frente como milhares de olhos.
Eles me chamam para ir pelo universo. Pensamentos se movem como um vento incansável dentro de uma caixa de correio.
Elas tropeçam cegamente enquanto fazem seu caminho pelo universo.

Jai guru deva.
Om.

Nada vai mudar meu mundo...

Sons de risos, sombras de amor estão tocando meus ouvidos abertos, me excitando e convidando...
Um amor incondicional sem limites que brilha em minha volta como milhões de sóis, e me chamam para ir pelo universo.

Jai guru deva.
Om.

Nada vai mudar meu mundo...

Jai guru deva...
Om."

The Beatles - Versão: Laibach

segunda-feira, julho 10, 2006

A vida é feita de pequenos nadas...

InosCorradin-a sOoL!!"(...)

Não há melhor antídoto pra solidão e é por isso que eu não fico satisfeito em sentir o que eu sinto, se o que eu sinto fica só no meu peito. Por mais que eu seja egoísta aprendi a dividir as emoções e os seus efeitos, sei que o mundo é um novelo... Uma só corrente. Posso vê-lo por seus belos elos transparentes: Mudam cores e valores mas tá tudo junto por mais que eu saiba eu ainda pergunto:

(...)

Nossa vida é feita de pequenos nadas...

Tás a ver a linha do horizonte? A levitar, a evitar que o céu se desmonte. Foi seguindo essa linha que notei que o mar, na verdade é uma ponte... Atravessei e fui a outros litorais e no começo eu reparei nas diferenças, mas com o tempo eu percebi e cada vez percebo mais como as vidas são iguais, muito mais do que se pensa...

Mudam as caras mas todas podem ter as mesmas expressões. Mudam as línguas mas todas têm suas palavras carinhosas e os seus calões... As orações e os deuses também variam, mas o alívio que eles trazem vem do mesmo lugar... Mudam os olhos e tudo que eles olham mas, quando molham, todos olham com o mesmo olhar... Seja onde for uma lágrima de dor tem apenas um sabor e uma única aparência.

A palavra saudade só existe em português mas nunca faltam nomes se o assunto é ausência. A solidão apavora mas a nova amizade encoraja... E é por isso que a gente viaja procurando um reencontro, uma descoberta que compense a nossa mais recente despedida. Nosso peito muitas às vezes aperta... Nossa rota é incerta... Mas o que não é incerto na vida?
(...)
A vida é feita de pequenos nadas que a gente saboreia, mas não dá valor... Um pensamento, uma palavra, uma risada... Uma noite enluarada ou um sol a se pôr... Um bom dia, um boa tarde, um por favor... Simpatia é quase amor.

Uma luz acendendo, uma barriga crescendo, uma criança nascendo, obrigado senhor... Seja lá quem for o senhor. Seja lá quem for a senhora. A quem quiser me ouvir e a mim mesmo, preciso dizer tudo que eu estou dizendo agora, preciso acreditar na comunicação. Não há melhor antídoto pra solidão. E é por isso que eu não fico satisfeito em sentir o que eu sinto...

Se o que sinto fica só no meu peito, por mais que eu seja egoísta aprendi a dividir minhas derrotas e minhas conquistas. Nada disso me pertence... É tudo temporário no tapete voador do calendário. Já que temos forças pra somar e dividir enquanto estivermos aqui. Se me ouvires cantando, canta comigo... Se me vires chorando, sorri...

Tás a ver a vida como ela é? Tás a ver a vida como tem que ser? Tás a ver a vida como agente quer? Tás a ver a vida pra gente viver?

A vida é feita de pequenos nadas."

Gabriel, O Pensador

domingo, julho 09, 2006

Que Mundo Maravilhoso...

"Eu vejo as árvores de verde, rosas vermelhas também
Eu as vejo florescer para nós dois
E eu penso comigo...
Que mundo maravilhoso...

Eu vejo os céus de azul e as nuvens de branco
O brilho do dia abençoado, a sagrada noite escura
E eu penso comigo...
Que mundo maravilhoso...

collage

As cores do arco-íris, tão bonitas nos céus
E estão também nos rostos das pessoas que passam
Vejo amigos apertando as mãos, dizendo: "como você vai?"
Eles realmente dizem: "eu te amo !"

Eu ouço bebês chorando, eu os vejo crescer
Eles aprenderão muito mais que eu jamais saberei
E eu penso comigo...
Que mundo maravilhoso
Sim, eu penso comigo...
Que mundo maravilhoso..."

canta: Louis Armstrong

terça-feira, julho 04, 2006

Quatro

AkesKanakos-a sOoLSe a Terra tivesse o Sol, haveria grande incêndio.
O Sol, por sua vez não tem tempo de ter a Terra.
Por sua vez,
A Terra também não tem tempo de ter o Sol.
Será que este é de todo, o desejo do tempo?
Que os dois não se encontrem.
Marcados pelo tempo.

O Sol gira em torno da Terra.
Por sua vez, a Lua gira em torno do Sol.
E são tantas estrelas no céu!
O Sol, uma estrela.
A Terra e a Lua,
Dois planetas que precisam de luz.
Na Terra tem vida e as coisas caem no chão.
A Lua é mistério.
Em qualquer esquina, as coisas flutuam.
Se todos saírem de suas órbitas,
O tempo então se coroaria rei.
Porém reinaria sobre o quê?

Que terras de que planeta haveriam de ter
Tão peculiar vida e mistério?
Constelações e mais constelações se reuniriam
em busca de um tempo próprio.

Não há tempo impróprio.
O tempo nunca esqueceu-se delas.
As estrelas têm luz própria.
O tempo, por sua vez, constela espaços com as mais diferentes paisagens.
Se uma estrela, com sua luz e seu tempo, morre,
Já constelou por seu espaço vivo.
Que se prepara para a obra preciosa do choque de duas energias no céu.
A dar origem à bilhões de pequenas, grandes e médias estrelinhas recém-nascidas.
Quem sabe estão cada vez mais preparadas.
Para aceitar o tempo. Sem possuí-lo.
Assim o tempo não as engole. E podem mesmo enfeitar-se dele.
Para brilhar mais.
Morrerão grávidas do tempo.

O Sol só quer à Terra esquentar.
Esta se entrega com deleite ao calor do Sol.
Se um dia se tocam inteiros, incendeiam-se.
Sol e Lua podem se namorar.
Muitas vezes olho para o céu em pleno dia e lá está a Lua.

Tímida

Pleno dia. E ela admirando o Sol.
Podem algumas vezes se namorar de pertinho.
Este é outro encontro marcado.
Pelo tempo.
Será que Sol e Lua também fariam grande incêndio?

Maritza Garcia