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Música Brasileira

"Não é bom para o homem estar só mas ele está só, mesmo assim, ele espera e está só, ele adia e está só, só ele sabe que mesmo adiando chegará."
Natan Zach

sexta-feira, agosto 12, 2011

Meditação à Beira de um Poema

Podei a roseira no momento certo
e viajei muitos dias, aprendendo de vez
que se deve esperar biblicamente
pela hora das coisas.
Quando abri a janela, vi-a,
como nunca a vira constelada, os botões,
Alguns já com rosa-pálido
espiando entre as sépalas,
jóias vivas em pencas.

Minha dor nas costas,
meu desaponto com os limites do tempo,
o grande esforço para que me entendam
pulverizam-se diante do recorrente milagre.
maravilhosas faziam-se as cíclicas perecíveis rosas.
Ninguém me demoverá do que de repente soube
à margem dos edifícios da razão:
a misericórdia está intacta,
vagalhões de cobiça,
punhos fechados,
altissonantes iras,
nada impede ouro de corolas
e acreditai: perfumes.
Só porque é setembro

Adélia Prado‏

Cantos Novos

Diz a tarde: "Tenho sede de sombra!"
Diz a lua: "eu, sede de luzeiros."
A fonte cristalina pede lábios
e suspira o vento

Eu tenho sede de aromas e de sorrisos,
sede de cantares novos
sem luas e sem lírios,
e sem amores mortos.

Um cantar de manhã que estremeça
os remansos quietos
do porvir. E encha de esperança
suas ondas e seus lodaçais.

Um cantar luminoso e repousado
cheio de pensamentos,
virginal de tristezas e de angústias
e virginal de sonhos.
Cantar sem carne lírica que encha
de risos o silêncio
(um bando de pombas cegas
lançadas ao mistério).

Cantar que vá à alma das coisas
e à alma dos ventos
e que descanse por fim na alegria
do coração eterno.

Federico García Lorca