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Música Brasileira

"Não é bom para o homem estar só mas ele está só, mesmo assim, ele espera e está só, ele adia e está só, só ele sabe que mesmo adiando chegará."
Natan Zach

domingo, junho 11, 2006

Viver hipoteticamente

EdwardSteichen1906-a sOoL!!

" (...)
Desde a mais tenra juventude, naqueles tempos em que ela começa a tomar consciência de si própria e cujos vestígios mais tarde se recordam comovidamente, ficara-lhe a lembrança de toda a espécie de imaginações que lhe eram caras, entre estas a ideia de "viver hipoteticamente".

Estas duas palavras continuavam a evocar agora a coragem e a ignorância voluntária da vida, os tempos em que cada passo representa uma aventura, privada do apoio da experiência, o desejo de grandeza nas relações e esse sopro de revocabilidade que experimenta um jovem hesitante quando entra na vida.
(...)
O sentimento apaixonante de ser eleito fosse para o que fosse, eis a única coisa certa e bela que se reflete no olhar daquele que avalia pela primeira vez o mundo. Se este é senhor das suas emoções, nada encontra a que possa dizer sim sem reserva; busca a bem amada possível, mas ignora qual ela é; tem capacidade de matar, sem estar seguro de que o deve fazer.

O desejo de evoluir, próprio da sua natureza, impede-o de acreditar no fato realizado, mas tudo quanto vem a conhecer apresenta-se como se fosse já irrevogável. Pressente que esta ordem não é tão estável como parece; nenhum objeto, nenhuma pessoa, nenhum princípio é sólido, tudo está dependente de uma metamorfose invisível, mas nunca interrompida; há mais futuro no instável do que no estável e o presente não passa de uma hipótese que ainda não foi ultrapassada.

Que poderia ele fazer de melhor do que conservar a sua liberdade em relação ao mundo, como um sábio que se mantém livre em relação aos fatos que poderiam levá-lo a acreditar prematuramente em si? Por isso hesita em ser seja o que for; um caráter, um modo de vida, definido, uma profissão, não passam de representações sob as quais avulta já o esqueleto que será tudo quanto lhe resta no fim.

Busca compreender-se por outros meios; com aquele apetite de que é dotado para tudo quanto pode vir a enriquecê-lo interiormente (mesmo para além dos limites da moral e do pensamento), experimenta a impressão de ser um passo, livre de seguir em todas as direções, mas que vai sempre de um ponto de equilíbrio até ao seguinte, e sempre em frente.
(...) "
Robert Musil

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