"Desejamos que o ser amado nos ame para o podermos preencher com a nossa existência. Mas essa generosidade é interesseira:
Essa existência que a partir de agora sentimos ser invocada perde aos nossos olhos a sua facticidade, pretendemos motivar-nos, nós próprios e livremente, à existência, para satisfazer o desejo de uma consciência livre.
Essa existência que a partir de agora sentimos ser invocada perde aos nossos olhos a sua facticidade, pretendemos motivar-nos, nós próprios e livremente, à existência, para satisfazer o desejo de uma consciência livre.
Estas queridas veias nas nossas mãos, é por bondade que elas existem. Como somos bons por termos olhos, cabelos, sobrancelhas e os prodigalizarmos incansavelmente num excesso de generosidade a esse desejo incansável de outrem.
Enquanto, antes de sermos amados nos preocupavamos com essa protuberância injustificada que era a nossa existência, que se desenvolvia em todas as direções, eis que agora essa própria existência é retomada e desejada nos seus múltiplos pormenores por uma liberdade análoga à nossa — uma liberdade que nós próprios queremos juntamente com a nossa.
É essa a essência da felicidade amorosa: sentirmo-nos justificados por existirmos. No fundo, não o estamos de forma nenhuma, apenas perdemos a nossa solidão, o ser que nos ama absorve-nos nele e nós escondemos a cabeça no seu peito, como o avestruz esconde a sua debaixo da terra. Porque a nossa solidão não existe sem que tenhamos assumido a nossa facticidade injustificável.
Nenhum amor pode justificar a nossa existência. Na realidade, é essa inautenticidade que eu censuro nas pessoas que tratam de ser amadas mas não amam.
Ora, justamente, fui muitas vezes uma dessas pessoas. O que geralmente me atraía mais numa aventura era a necessidade de me revelar "necessário" a uma consciência, à maneira de uma obra de arte. Como um maná que se tivesse produzido por si próprio para a satisfazer. Mas devo dizer que quando se ama também, seja qual for o amor que o ser amado nos testemunhe, sai-se da solidão."
Jean-Paul Sartre
Enquanto, antes de sermos amados nos preocupavamos com essa protuberância injustificada que era a nossa existência, que se desenvolvia em todas as direções, eis que agora essa própria existência é retomada e desejada nos seus múltiplos pormenores por uma liberdade análoga à nossa — uma liberdade que nós próprios queremos juntamente com a nossa.
É essa a essência da felicidade amorosa: sentirmo-nos justificados por existirmos. No fundo, não o estamos de forma nenhuma, apenas perdemos a nossa solidão, o ser que nos ama absorve-nos nele e nós escondemos a cabeça no seu peito, como o avestruz esconde a sua debaixo da terra. Porque a nossa solidão não existe sem que tenhamos assumido a nossa facticidade injustificável.
Nenhum amor pode justificar a nossa existência. Na realidade, é essa inautenticidade que eu censuro nas pessoas que tratam de ser amadas mas não amam.
Ora, justamente, fui muitas vezes uma dessas pessoas. O que geralmente me atraía mais numa aventura era a necessidade de me revelar "necessário" a uma consciência, à maneira de uma obra de arte. Como um maná que se tivesse produzido por si próprio para a satisfazer. Mas devo dizer que quando se ama também, seja qual for o amor que o ser amado nos testemunhe, sai-se da solidão."
Jean-Paul Sartre
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