"Uma funesta cortina correu diante de mim, e o espectáculo da vida infinita metamorfoseou-se-me. Sem sugestão num túmulo eternamente aberto. Poder-se-a dizer: "é isso" quando tudo passa?, quando cada ser conserva tão pouco tempo a porção de existência que há nele, e é arrastado pela corrente, submerso, esmagado contra os rochedos?
Não há instante que não te devore, a ti e aos teus, não há instante em que não sejas, em que não devas ser, um destruidor. O mais inocente percurso custa a vida a milhares de pobres insetos, um só dos teus passos destrói o penoso trabalho das formigas e impele um pequenino mundo para o túmulo.
Ah!, não são as vossas grandes e raras catástrofes, essas inundações, esses tremores de terra que submergem as vossas cidades, que me impressionam: o que me consome o coração é essa força dominadora que se oculta sob todas as coisas, que nada produz que não destrua o que a rodeia, e não se destrua a si mesmo...
É assim que ando errante e atormentado. Céu, terra, forças ativas que me rodeiam, apenas vejo em tudo isso um monstro sempre devorador e sempre esfomeado."
J. W. Goethe
J. W. Goethe
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