(...) "Afinal, não pensas, nem de longe, o mesmo que eu. Queixas-te, porque as coisas não se dispõem à tua volta como um ramo de flores, sem te dares ao trabalho de fazer seja o que for. Mas nunca eu pedi tanto: queria agir. Lembras-te de quando brincávamos ao aventureiro e à aventureira? Tu eras aquele a quem sucedem aventuras, eu aquela que as fazia suceder."
Dizia eu: “Sou um homem de ação.” Lembras-te? Pois bem, agora digo simplesmente: “Não se pode ser um homem de ação.”
(...)
"E depois há uma quantidade de outras coisas que não te disse, porque levaria muitíssimo tempo a explicar-te. Seria preciso, por exemplo, poder dizer, no momento em que agia, que o que estava a fazer teria consequências... fatais. Não posso explicar-te bem..."
"Mas é perfeitamente inútil", digo eu com um ar bastante pedante; "também isso eu pensei."
Ela olha-me com desconfiança.
"A julgar pelo que dizes, terias pensado tudo da mesma maneira que eu: muito me espanta."
Não posso convencê-la; não conseguiria mais do que irritá-la. Calo-me. Tenho vontade de a cingir nos meus braços. De súbito, ela olha para mim com uma expressão de ansiedade.
"E então, já que pensaste nisso tudo, que nos resta agora fazer?" Baixo a cabeça.
"E então, já que pensaste nisso tudo, que nos resta agora fazer?" Baixo a cabeça.
"Vou... vou sobrevivendo a mim própria", repete ela, pesadamente.
"Que poderei dizer-lhe? Conheço eu algumas razões para viver? Não estou, como ela, desesperado, porque nunca tinha esperado grande coisa. Estou é... espantado diante desta vida que me é dada... dada para nada. Conservo a cabeça baixa (...)"
Jean Paul Sartre - Trad. de António Coimbra Martins
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