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Música Brasileira

"Não é bom para o homem estar só mas ele está só, mesmo assim, ele espera e está só, ele adia e está só, só ele sabe que mesmo adiando chegará."
Natan Zach

sábado, maio 24, 2008

Reverso

Mariah-a sOoL!!O que muito me confunde é que no fundo de mim estou eu e no fundo de mim estou eu.

No fundo sei que não sou sem fim e sou feito de um mundo imenso imerso num universo que não é feito de mim.

Mas mesmo isso é controverso se nos versos de um poema perverso sai o reverso.

Disperso num tal dilema o certo é reconhecer:

no fundo de mim sou sem fundo.

Antonio Cicero

Blanco

NubarAlexanian-a sOoL!!Me vejo no que vejo
Como entrar por meus olhos

Em um olho mais límpido
Me olha o que eu olho

É minha criação
Isto que vejo

Perceber é conceber

Águas de pensamentos
Sou a criatura do que vejo

Octávio Paz

quinta-feira, maio 22, 2008

Amor (parte III)

SandraSilvestre-a sOoL!!“De amor devíamos falar em surdina; é o mais frágil dos materiais humanos. Um grito e muda-se em instalação de cacos, uma inclinação do olhar e perde-se na máquina da multidão. Distrai-se o amante e transforma-se em simples coisa amada, acariciada, gasta como a concha que se guarda e se esquece, empurrada pelo mar para o fundo do armário. Tropeçamos nele quando já nem nos lembrávamos da gaveta onde o havíamos escondido até à memória do olvido derradeiro - em que praia encontrámos esta concha? De que cor era quando nos atraiu, no seu brilho intermitente, alagado de sol? Tocamos-lhe, anos depois, e a rocha vermelha de que é feito esse bicho hibernante a que chamamos coração começa a mover-se de novo, esquecendo a decisão antiga que o acalmara em mineral. O coração que acorda não recorda a dor que o adormeceu; esqueceu tudo menos o tormento voluptuoso desse tempo de entrega que não passou. Ruíram as pontes, esboroaram-se as moradas, mas o tempo não passou - o tempo desse processo revolucionário em curso, a sépia e sangue, que só depois reconhecemos como filme da nossa vida.”

Inês Pedrosa

sábado, maio 03, 2008

Um sopro obscuro

HugoTinoco-a sOol!!
"(...) Mas ao menos agarrava esta verdade tanto quando esta verdade se agarrava em mim. Tinha tido razão ainda tinha razão, teria sempre razão. Vivera de uma certa maneira e poderia ter vivido de outra. Fizera isto e não aquilo. Não fizera determinada coisa, ao passo que fizera esta outra. E depois? Era como se durante todo tempo tivesse esperado por este minuto e por esta madrugada em que seria justificado. Nada, nada tinha importância e eu sabia bem por quê. Tambêm ele sabia por quê. Do fundo do meu futuro, durante toda essa vida absurda que eu levara, subira até mim, através dos anos que ainda não tinham chegado, um sopro obscuro, e esse sopro igualava, à sua passagem, tudo o que me haviam proposto nos anos, não mais reais, que eu vivia. (...)"

Albert Camus in: O estrangeiro

Para o inferno com isso...

MariaJoseAmorim-a sOoL!!"(...) Não se pode construir uma casa sem prego e sem tábuas. Se você não quer que uma casa seja construída, esconda os pregos e as tábuas. Se você não quer que uma pessoa seja politicamente infeliz, não lhe dê os dois lados de uma questão para se preocupar. Dê-lhe um só. Melhor ainda, não lhe dê nenhum. Será melhor ela esquecer que existe uma coisa como a guerra. Se o governo for ineficiente, autoritário e perdulário, é melhor ser tudo isso sem que as pessoas se preocupem com essas coisas. Paz, Montag.

Dê às pessoas concursos que elas ganham lembrando-se das letras das canções mais populares, dos nomes das capitais ou de qual estado produz mais petróleo. É melhor entulhá-las de dados não combustíveis, entupi-las com tantas “informações” que elas se sintam enfastiadas, mas muitíssimo “brilhantes”. Aí elas acham que estão pensando, ficam com uma impressão de estar em movimento sem se mexer. E ficarão felizes porque os fatos dessa espécie não se modificam. Não lhes dê coisas escorregadias, como filosofia ou sociologia para embrulhar as coisas. Esse é o caminho da melancolia. Qualquer homem que seja capaz de desmontar uma TV mural e montá-la de novo (e hoje em dia quase todo mundo sabe fazer isso) é mais feliz do que o homem que tenta calcular, medir e equacionar o Universo, que simplesmente não se deixa medir ou equacionar sem que o homem se sinta vil e solitário. Eu sei, eu já tentei. Para o inferno com isso.

Então, vamos lá, com clubes e festas, acrobatas e mágicos, saltimbancos, carros a jato, ciclo-helicópteros, sexo e heroína, tudo o que tem a ver com reflexo automático. Se o drama é ruim, se o filme não diz nada, se a peça é vazia, agite-me com sons eletrônicos e bem altos. Vou pensar que estou reagindo à peça, quando se trata apenas de uma reação tátil às vibrações. Mas não ligo. Tudo o que eu quero é uma boa diversão. (...)"

Ray Bradbury in: Fahrenheit 451

quinta-feira, maio 01, 2008

Permanecer

MARCOSGEBIN-a sOoL!!
"(...) só aquele que permanece inteiramente ele próprio pode, com o tempo, permanecer objeto do amor,
porque só ele é capaz de simbolizar para o outro a vida, ser sentido como tal.
Assim, nada há de mais inepto em amor do que se adaptar um ao outro,
de se polir um contra o outro,
e todo esse sistema interminável de concessões mútuas...
e, quanto mais os seres chegam ao extremo do refinamento,
tanto mais é funesto de se enxertar um sobre o outro, em nome do amor, de se transformar um em parasita do outro,
quando cada um deles deve se enraizar robustamente
em um solo particular, a fim de se tornar todo um mundo para o outro. (...)"

Lou Andreas-Salomé

No que acredito...

GraçaLoureiro-a sOoL!! "Acredito que ao morrer apodrecerei e nada do meu eu sobreviverá. Não sou jovem e amo a vida.

Mas desdenho tremer de terror à idéia do aniquilamento.

A felicidade não se torna menos verdadeira por ter que chegar ao fim, e o pensamento e o amor não perdem o seu valor por não durarem para sempre.

Muitos homens já se portaram orgulhosamente no cadafalso; certamente o mesmo orgulho deveria nos ensinar a pensar verdadeiramente sobre o posto do homem no mundo.

Mesmo se inicialmente as janelas abertas da ciência fazem-nos tremer após o quente aconchego dos mitos antropomórficos tradicionais, no final o ar fresco revigora, e os grandes espaços têm o seu próprio esplendor."

Bertrand Russell in: http://antoniocicero.blogspot.com