Por mais que te cante o corpo lembra-te:
a vida é esse pássaro enlouquecido
que morre de encontro aos espelhos na ânsia de um nome.
Lembra-te: é preciso pagar os juros da dor.
Virão os frutos de todas as estações
e a música mínima que habita a folhagem,
soletrando, folha a folha, como um labirinto,
a escrita interminável nas pedras, nas árvores,
a escrita do mundo, multiplicando-se.
E vislumbrarás, entre as tuas noites,
as pequenas, humanas glórias,
o que poderá ter sido, nesse naufrágio da luz,
continuarás a alimentar esse pássaro
que floresce na sua noite:
o exílio, a alma que se esmaga na superfície dos espelhos,
eternamente devorada pelo tempo.
Maria Joao Cantinho
Nenhum comentário:
Postar um comentário