Não é de poesia que precisa o mundo.
Aliás, nunca precisou.
Foi sempre uma excrescência escandalosa
que se lhe dissesse como é infame a vida
que não vivamos para outrem nele.
E nunca, só de ser, disse a poesia uma outra coisa,
Aliás, nunca precisou.
Foi sempre uma excrescência escandalosa
que se lhe dissesse como é infame a vida
que não vivamos para outrem nele.
E nunca, só de ser, disse a poesia uma outra coisa,
ainda quando finge que de sobreviver se faz a vida.
O mundo precisa de morte.
Não da morte com que assassina diariamente
quantos teimam em dizer-lhe da grandeza de estar vivo.
Nem da morte que o mata pouco a pouco,
e de que todos se livram no enterro dos outros.
Mas sim da morte que o mate
como um percevejo, uma pulga, um piolho, uma barata, um rato.
Ou que a bomba venha para estas culpas,
se foi para isso que fizemos filhos.
Há que fazer voltar à massa primitiva esta imundície.
E que, na torpitude de existir-se,
ao menos possa haver as alegrias ingênuas de todo o recomeço.
Que os sóis desabem.
Que as estrelas morram.
Que tudo recomece
desde quando a luz não fora ainda separada
às trevas do espaço sem matéria.
Nem havia um espírito flanando ocioso sobre as águas quietas,
que pudesse mentir-se olhando a criação.
(O mais seguro, porém, é não recomeçar.)
O mundo precisa de morte.
Não da morte com que assassina diariamente
quantos teimam em dizer-lhe da grandeza de estar vivo.
Nem da morte que o mata pouco a pouco,
e de que todos se livram no enterro dos outros.
Mas sim da morte que o mate
como um percevejo, uma pulga, um piolho, uma barata, um rato.
Ou que a bomba venha para estas culpas,
se foi para isso que fizemos filhos.
Há que fazer voltar à massa primitiva esta imundície.
E que, na torpitude de existir-se,
ao menos possa haver as alegrias ingênuas de todo o recomeço.
Que os sóis desabem.
Que as estrelas morram.
Que tudo recomece
desde quando a luz não fora ainda separada
às trevas do espaço sem matéria.
Nem havia um espírito flanando ocioso sobre as águas quietas,
que pudesse mentir-se olhando a criação.
(O mais seguro, porém, é não recomeçar.)
Jorge de Sena
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