"Eu penso que Jesus devia de nascer em Belém, na Paraíba.
Sim, em Belém, perto de Guarabira e vizinho de Pirpirituba. E se não bastasse a vizinhança a indicar a rima e o caminho, perto de Nova Cruz.
Teria sido filho caçula de uma Dona Maria, mulher dona de beleza e inspiradora de bondade nas pessoas. Teria sido menino moreno, muito esperto, embalado em rede de algodão cru. Teria tido sandálias com currulepo entre os dedos e cajus, em dezembro, a lhe matar a sede. E seu pastor ... um vaqueiro nordestino, de gibão e perneira e guarda-peito, para livrar as suas carnes da Jurema.
Teriam vindo adorar o deus-menino os Santos Reis entrelaçados de bom jeito: um negro, um índio e um branco português.
Teria sido fácil encontrar espinhos, para coroar a fronte de Jesus, e um pau de arara em São José do Egito para levá-lo, retirante, para São Paulo. Um santo feito para as grandes secas!
'Meu Deus, meu Deus, por que nos abandonaste...', exclamaria enquanto repartiria com o povo nu as suas vestes, multiplicadas como pães ou peixes.
Quando criança, o Jesus da Paraíba teria sido carpinteiro como seu pai, teria feito caixões azuis para os anjos do lugar. E proezas num cavalo de pau. Sim, num cavalo de pau, pois seu jumento teria sido muito magro e nem teria servido para carne de jabá.
Jesus teria sido um menino desnutrido a fazer o bem, desnutrido como os outros da região, onde as coisas só vão na base do milagre ou da força parida da vontade.
Eu penso que Jesus devia de nascer em Belém, na Paraíba!"
Sim, em Belém, perto de Guarabira e vizinho de Pirpirituba. E se não bastasse a vizinhança a indicar a rima e o caminho, perto de Nova Cruz.
Teria sido filho caçula de uma Dona Maria, mulher dona de beleza e inspiradora de bondade nas pessoas. Teria sido menino moreno, muito esperto, embalado em rede de algodão cru. Teria tido sandálias com currulepo entre os dedos e cajus, em dezembro, a lhe matar a sede. E seu pastor ... um vaqueiro nordestino, de gibão e perneira e guarda-peito, para livrar as suas carnes da Jurema.
Teriam vindo adorar o deus-menino os Santos Reis entrelaçados de bom jeito: um negro, um índio e um branco português.
Teria sido fácil encontrar espinhos, para coroar a fronte de Jesus, e um pau de arara em São José do Egito para levá-lo, retirante, para São Paulo. Um santo feito para as grandes secas!
'Meu Deus, meu Deus, por que nos abandonaste...', exclamaria enquanto repartiria com o povo nu as suas vestes, multiplicadas como pães ou peixes.
Quando criança, o Jesus da Paraíba teria sido carpinteiro como seu pai, teria feito caixões azuis para os anjos do lugar. E proezas num cavalo de pau. Sim, num cavalo de pau, pois seu jumento teria sido muito magro e nem teria servido para carne de jabá.
Jesus teria sido um menino desnutrido a fazer o bem, desnutrido como os outros da região, onde as coisas só vão na base do milagre ou da força parida da vontade.
Eu penso que Jesus devia de nascer em Belém, na Paraíba!"
Diógenes da Cunha Lima - (adaptado por a sOoL!!)
Um comentário:
Feliz com a sua adaptação de JESUS, UM NORDESTINO. Você conhece a interpretação feita por Antonio Abumjanra?
Grande emoção, também pelo poema estar em ótima companhia.
Grato
Diógenes da Cunha Lima.
diogenesdacunhalima.com.br
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