"Muitas canções começam no fim, em cidades estranhas. Sei que a felicidade dos meses é ao meio e a força de um homem é ao meio da vida pura. Mas são muitas as canções que começam no fim. É no fim que secamente falam do ardor ao meio da cidade e da existência que se volta para si, de rosto – tremente e verde de sua ilusão. Canções cada vez mais no seu fim, tão secas voltadas imenso para trás. Para onde é todo o poder. Conheço horríveis canções cor de coisas transtornadas. Canções ainda repletas de peixes, flechas, dedos agudos abertos em torno do sexo. Começam no fim do seu pensamento. São para morrer na véspera, com um lento pavor no coração e o povo atônito por todos os lados. Porque o povo não sabe que um homem morre antes da sua última canção."
Herberto Helder
Herberto Helder
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